quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Notas sobre 'as revoluções' no mundo árabe

Uma breve passada pela Indigo Bookstore no centro de Toronto. O motivo? Tentar escolher uma das revistas semanais que tratam dos últimos acontecimentos no Egito, Tunisia, Líbia e no resto do mundo árabe.

Talvez fosse uma pretensão escolher apenas uma revista - eleita como "a melhor cobertura", e por isso mesmo eu passei um bom tempo lendo outros artigos sobre os acontecimentos, antes de comprar definitivamente a The New Yorker da semana - que se propõe a analisar o Oriente Médio pós-Cairo, além de uma artigo sobre a economia do mundo islâmico. A revista Time estampa na capa rostos de jovens egípcios responsáveis por "mudar o mundo".

De certo modo, a onda de manifestações deixa exposto um lado positivo da globalização e evidencia a facilidade com que informações e movimentos conseguem se dissipar na atualidade. O jornal da York University dedicou uma de suas edições à análise de como - por exemplo - as redes sociais foram importantes para os eventos.

Mas como já vi em outros momentos (como a eleição presidencial no Irã em 2009 - quem se lembra?), a internet é importante, mas a massa nas ruas tem um significado muito mais amplo. É o que eu chamo de "real mobilização" com palavras de ordem e até mesmo coqueteis Molotov (sem fazer apologia à violência). E isso é bem diferente de ficar repassando correntes por email, pensando estar ajudando ou participando de algum modo das decisões do país - mas isso é assunto pra, quem sabe, outro post.

Os acontecimentos de Cairo mostraram uma juventude feroz, capaz de mudar e de revolucionar quando deseja - e talvez essa seja realmente uma visão um tanto quanto "romântica" para os céticos (como eu); mas não seriam as 'revoluções' combustíveis para o romântico ideal de Mudança? Na Praça Tahrir, os egípcios fizeram jus ao nome do local - que significa Libertação - e acabaram servindo de inspiração para os demais países que sofrem nas mãos de ditadores que estão no poder há décadas.

Agora são os cidadãos da Líbia que estão nas ruas, e certamente vão derrubar Gaddafi quer ele queira ou não. Os países "abriram os olhos" para a opressão das ditaduras no mundo árabe (muitas delas apoiadas em vários momentos pelos Estados Unidos), e caso insista a permanecer no poder, o ditador líbio deverá sofrer com o isolamento e as sanções que serão impostas por vários países já nos próximos dias.

Aqui no Canadá, ocorreram vários protestos no centro de Toronto (uma das cidades mais cosmopolitas do mundo - cerca de 50% dos moradores daqui sequer nasceram no Canadá), e também se viu muita festa quando Mubarak caiu no Egito. O mesmo tipo de manifestação nas ruas também acontece agora em relação à Líbia. É interessante ver os acontecimentos daqui - as perspectivas são bem diferentes dos demais lugares, justamente por ser uma das cidades em que povos diversos convivem pacificamente.

"It struck me that these kids now finally believe in the ownership of their contry" disse o ex-embaixador do Egito em Washington, Nabil Fahmy, à New Yorker. Na matéria, ele ainda se pergunta o que as gerações anteriores, inclusive a sua, fez (ou deixou de fazer) pelo país. É sabido que o mais difícil ainda está por vir (democratização, eleições, etc.), mas devemos ser otimistas e fazer jus ao espírito das revoluções, crendo que ocorrerá mudanças significativas nas políticas adotadas em alguns países do mundo árabe.

As charges que ilustram o post, publicadas em diversos jornais mundo afora, foram extraídas do blog "Notas ao Café".

Contemplando o sublime


"Não são músicas tristes, mas sim cheias de cores - uma experiência às vezes dolorosa, mas também cheia de alegria" Yann Tiersen sobre Dust Lane (tradução livre)

Eu diria que é uma mistura de música clássica com toques de punk, um som mais urbano, ou então o casamento perfeito entre guitarras e violino. Difícil descrever o último trabalho de Yann Tiersen, intitulado Dust Lane. Pra refrescar a memória, trata-se do compositor da trilha sonora de Amelie Poulain e Adeus Lenin.

Eu sempre acompanhei o trabalho de Tiersen, e senti muito não poder tê-lo visto ao vivo em São Paulo na Virada Cultural de 2010. Mas o melhor ainda estava por vir: sua turnê pela América do Norte passou por Toronto, e é claro que dessa vez eu não perderia a oportunidade de conferir a performance do músico ao vivo.

Tudo se encaixou: o inverno de Toronto e minha descoberta (e "digestão" musical) de Dust Lane. Durante alguns dias, antes da apresentação da última terça-feira, eu dediquei um tempo para ouvir as 8 faixas do CD - e foi interessante como as músicas se conectavam e se relacionavam com minhas atuais experiências. Faixas como Dust Lane ou Palestine iam e voltavam durante andanças pelas ruas, espera pelo ônibus e até mesmo aulas. Foi como se, de fato, eu tivesse encontrado a trilha sonora perfeita para o inverno, com suas "dores" e suas "alegrias".

"Contemplar"

Sobre a composição do álbum, sabe-se que foi um processo longo e durou cerca de 2 anos. Neste ínterim, acontecimentos como a morte da mãe e de um amigo próximo a Yann tiveram grande influência em seu trabalho. Talvez isso adicione um pouco de melancolia às músicas - mas é tudo belo, uma espécie de contemplação do sublime; e porque o sublime não pode ser (também) melancólico?

Há algum tempo venho pensando sobre a importância de "contemplar" cada momento específico, cada rua cruzada, cada viagem, cada paisagem, cada conversa, cada dor. E isso implica uma observação atenta, calma, ou como o Priberam cita: dar, doar, considerar, meditar profundamente. As estradas, os campos cheios de neve, as ruas do centro da cidade - tudo isso pode e deve ter um sentido maior. É como os versos do post anterior (Maybe you're in a silent hill/ Listen the place with eyes closed/ Because life happens/ And you are part of it) relembrando a vista e os 'pensamentos' no alto do Mont Royal.

Yann Tiersen se apresentou no Phoenix Theatre com a intensidade que eu esperava ver (e que a densidade das músicas pedem também), e em certos momentos, eu me vi mergulhado em lembranças, sonhos e... música!

Se eu tiver que escolher a soundtrack dos primeiros meses de 2011, direi sem sombra de dúvidas que Dust Lane é um dos discos que consegue exprimir as muitas sensações e experiências que tenho vivido por aqui.

Abaixo, o video diary da turnê, com imagens de Toronto e Montreal - ruas conhecidas e frequentadas por mim neste gelado início de ano.



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Silent Hill


Look outside

There's a world that you cannot see


The reality behind your eyes

But you cannot understand it


Life happens,

even in the Cold


While the snow fell

Someone laughed


While the cold wind blew

A child was born


Life happens

doesn't matter how


Happiness, sadness

fulfillment, emptiness


Maybe you're in a silent hill

Listen the place with eyes closed


Because life happens

And you are part of it


Just because of it

Stop questioning and accept some cruelties


Quiet, listen the silence

Listen the hill

Foto: pôr-do-sol no Mont Royal, Montreal - Canadá. Fevereiro de 2011.