sábado, 29 de maio de 2010

Bloco de notas: "Parabólicas"

Verão de 2009

Há horas cruzando o sertão. O velho Xico já passou, e eu prossigo entre morros, pedras e vilarejos que parecem estar perdidos no tempo, totalmente isolados. Por aqui, o tempo parece ter parado e os quilômetros se tornaram insignificantes diante das muitas curvas...

No meio do nada surgem ruas estreitas, casas de barro, cercas construídas com galhos secos entrelaçados. Nas portas das casas as pessoas esperam o sol se pôr. São cidades invisíveis – povoados invisíveis. Pessoas perdidas em meio às montanhas. As antenas apontadas para os céus são indícios de que existe algum tipo de conexão com o que chamaria de mundo real (ou não!). Os semblantes revelam uma alegria sofrida, um sorriso tipicamente brasileiro.

Passando por estes lugares, me lembrei de uma canção que diz: “...se a TV estiver fora do ar, quando passarem os melhores momentos da sua vida, pela janela alguém estará de olho em você”. Neste momento eu estava na janela, e as pessoas se divertiam com o movimento na avenida central de um lugar inexistente, um projeto inacabado de fios e fogueiras, céu rubro e parabólicas.

Eu lia Calvino e tinha no coração a alegria boba de que aquela imagem se eternizaria.E neste bloco, será rememorada por muito tempo.


"Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos."
As Cidades Invisíveis - Italo Calvino




2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Vivemos a procura de coisas e formas abstratas todos os dias, mas o que guardamos na memória são coisas simples...

    Como eu queria ler todos os dias palavras delicadas e cheias de sensações reais como estas!

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