quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Contemplando o sublime


"Não são músicas tristes, mas sim cheias de cores - uma experiência às vezes dolorosa, mas também cheia de alegria" Yann Tiersen sobre Dust Lane (tradução livre)

Eu diria que é uma mistura de música clássica com toques de punk, um som mais urbano, ou então o casamento perfeito entre guitarras e violino. Difícil descrever o último trabalho de Yann Tiersen, intitulado Dust Lane. Pra refrescar a memória, trata-se do compositor da trilha sonora de Amelie Poulain e Adeus Lenin.

Eu sempre acompanhei o trabalho de Tiersen, e senti muito não poder tê-lo visto ao vivo em São Paulo na Virada Cultural de 2010. Mas o melhor ainda estava por vir: sua turnê pela América do Norte passou por Toronto, e é claro que dessa vez eu não perderia a oportunidade de conferir a performance do músico ao vivo.

Tudo se encaixou: o inverno de Toronto e minha descoberta (e "digestão" musical) de Dust Lane. Durante alguns dias, antes da apresentação da última terça-feira, eu dediquei um tempo para ouvir as 8 faixas do CD - e foi interessante como as músicas se conectavam e se relacionavam com minhas atuais experiências. Faixas como Dust Lane ou Palestine iam e voltavam durante andanças pelas ruas, espera pelo ônibus e até mesmo aulas. Foi como se, de fato, eu tivesse encontrado a trilha sonora perfeita para o inverno, com suas "dores" e suas "alegrias".

"Contemplar"

Sobre a composição do álbum, sabe-se que foi um processo longo e durou cerca de 2 anos. Neste ínterim, acontecimentos como a morte da mãe e de um amigo próximo a Yann tiveram grande influência em seu trabalho. Talvez isso adicione um pouco de melancolia às músicas - mas é tudo belo, uma espécie de contemplação do sublime; e porque o sublime não pode ser (também) melancólico?

Há algum tempo venho pensando sobre a importância de "contemplar" cada momento específico, cada rua cruzada, cada viagem, cada paisagem, cada conversa, cada dor. E isso implica uma observação atenta, calma, ou como o Priberam cita: dar, doar, considerar, meditar profundamente. As estradas, os campos cheios de neve, as ruas do centro da cidade - tudo isso pode e deve ter um sentido maior. É como os versos do post anterior (Maybe you're in a silent hill/ Listen the place with eyes closed/ Because life happens/ And you are part of it) relembrando a vista e os 'pensamentos' no alto do Mont Royal.

Yann Tiersen se apresentou no Phoenix Theatre com a intensidade que eu esperava ver (e que a densidade das músicas pedem também), e em certos momentos, eu me vi mergulhado em lembranças, sonhos e... música!

Se eu tiver que escolher a soundtrack dos primeiros meses de 2011, direi sem sombra de dúvidas que Dust Lane é um dos discos que consegue exprimir as muitas sensações e experiências que tenho vivido por aqui.

Abaixo, o video diary da turnê, com imagens de Toronto e Montreal - ruas conhecidas e frequentadas por mim neste gelado início de ano.



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