domingo, 29 de janeiro de 2012

TRECHO

- É uma cidade igual a um sonho: tudo o que pode ser imaginado por ser sonhado, mas mesmo o mais inesperado dos sonhos é um quebra-cabeça que esconde um desejo, ou então o seu oposto, um medo. As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam outra coisa.

- Eu não tenho desejos nem medos - declarou o Khan - e meus sonhos são compostos pela mente ou pelo acaso.


- As cidades também acreditam ser obra da mente ou do acaso, mas nem um nem outro bastam para sustentar as suas muralhas. De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.


- Ou as perguntas que nos colocamos para nos obrigar a responder, como Tebas na boca da Esfinge.

CALVINO. Ítalo. As cidades Invisíveis. Tradução de Diogo Mainardi. São Paulo: Cia das Letras, 1990. p.44.

Nenhum comentário:

Postar um comentário