sexta-feira, 1 de maio de 2009

Vanessa da Mata, Chico Buarque e o ideal de entrevista como arte


Como gravar um DVD realmente artístico? Talvez a cantora Vanessa da Mata aponte um caminho para tal pergunta em seu DVD "Multishow ao Vivo - Vanessa da Mata". O especial da cantora que foi ao ar na noite de ontem me surpreendeu, e muito. Eu já sabia de sua potencialidade, até mesmo porque as “estórias” sobre essa cantora tão familiar se fundem com as impressões que eu tenho sobre uma pequena cidade do Mato Grosso, chamada Alto Garças (a mesma cidade da minha avó e onde meu pai foi criado).

Eu destaco o DVD como "artístico" justamente por fugir dos clichês de gravações, com platéias imensas em casas de shows. No registro da cantora existe uma busca por um ambiente mais intimista e até mesmo histórico. Paraty, no estado do Rio de Janeiro, foi a cidade escolhida, e consegue compor uma atmosfera única de simplicidade e sofisticação.


Vanessa canta Chico, Caetano e Cartola com a elegância de uma excelente intérprete que se recusa a utilizar o playback e prefere até mesmo registrar os “deslizes do calor de uma gravação ao vivo”. Outra questão marcante são suas composições, algumas tão singelas e tocantes, musicalmente bonitas. Destaque para “Amado”, “Ai Ai Ai” e “Boa sorte/Good Lucky” (essa última em parceria com Bem Harper).


Em uma entrevista à Folha de São Paulo ela revelou que antes da fama preferia ser reconhecida pelas composições: "Eu achava mais bonito. Sempre fui encantada pela pessoa que cria, que escreve música. Era isso o que queria para mim. Só depois de muito tempo comecei a gostar da minha voz". E depois ela completa com a frase que me faz ratificar a percepção de que ela é uma cantora completa: "Sou compositora compulsiva e me sinto meio escravizada por isso. Fico o dia todo com ideias rondando minha cabeça, uma frase que alguém diz, algo que vejo na rua. Vai ser muito difícil matar essa compositora".


Muito se diz sobre Chico Buarque, aliás, muitas comparações são feitas entre ele e outros grandes da música brasileira – o que eu acho tolo (e inútil). Mas o fato de tê-lo inserido no mesmo post que Vanessa da Mata tem sim uma conexão... que talvez eu possa resumir à genialidade das composições. Mas indo direto ao ponto, me refiro em especial ao seu livro recém lançado: “Leite Derramado”. Há muito tempo eu não tenho tanta vontade de ler um livro nacional, como estou empolgado em relação a este. Talvez porque, de acordo com o que a crítica expõe, exista uma aura machadiana nesta narrativa (alusão a Memórias Póstumas?!), e isso eu realmente quero conferir.

Aproveito para externar minha indignação em relação aos preços dos livros na Bienal de Goiânia, que estão iguais aos das lojas. Não existem grandes descontos para os lançamentos – fato que a meu ver invalida qualquer esforço para que tal evento aconteça.
..

Mas voltando ao Chico, tenho aqui o trecho que mais gosto de uma entrevista que ele deu para a turma do PASQUIM em 1970. Quero um dia ter a liberdade de fazer entrevistas como esta, com maior liberdade e leveza - como um bate papo descontraído. Aliás, um dos livros que mais me despertaram interesse na Bienal do Livro foi a respeito da arte de entrevistar (ou seria técnica?). Este assunto pode render muitas discussões, e vai ser assunto de outro post em breve (após ler o livro de entrevistas da Rolling Stone). Neste trecho, o cantor revela os problemas pós-sucesso... o trabalho!

Jaguar - (conciliador) Hoje sou capaz de gostar da Banda. Mas sem o apoio da classe média.

Chico - O resultado é que não fiz sucesso porra nenhuma. O pessoal começou a maltratar. No começo era Hilton Hotel, flores pra Marieta, uísque pra mim, almoços, jantares.

Ziraldo - Marieta grávida.

Chico - Não aconteceu nada, começou a esfriar tudo. O segundo disco já não foi gravado. O show prometido já não pintou. Aí começou o horror.

Ivan - O que que foi esse horror?

Chico - Começou o negócio de ter que trabalhar.

Ivan - Cabou o dinheiro.

Chico - Ninguém te conhece. Fiz shows que... Uma hora Toquinho foi me dar uma mão lá. Fizemos um show pra 20 pessoas, na casa de uma marquesa. Começamos a cantar e vimos que não tinha nada a ver, ninguém tava sabendo nada. "Vamos mandar um carnaval!" (ricos) Apelamos pro carnaval. Depois "A Banda". Aí o pessoal cantava. Depois da "A Banda", não tinha outra marcha... Aí ia de "Mamãe eu Quero". Levamos muitos canos também.

Jaguar - Pra nós essa época foi ótima. Você virou até correspondente d'O PASQUIM.

Chico - Não tinha mais que fazer! Ficava formando parte de um terceiro time. É aquele nível que ninguém conhece, daqueles que gravaram o primeiro disco, ou não gravaram ainda. Ou artista velho, que já refudeu. Pra ficar na cerca mesmo. Tinha aqueles também pra que nada tinha dado certo, o que era o meu caso. Com esses tavam putos, porque investiram uma nota, pagaram a minha passagem. Tive que me rebolar mesmo. Ficava mais apavorado do que aqui. Ia sozinho, com meu violão, ou só com o Toquinho. Cantando aquelas coisas que ninguém entendia, olhavam com aquela cara séria. É um troço horroroso!

Ziraldo - E a saudade adoidada do Brasil.

Chico - Minha filha nasceu e tive que fazer mais shows.




4 comentários:

  1. chico é chato e feio, mas vanessa...

    ah, vanessa! é uma das mulheres mais lindas e elegantes que eu já vi!

    e a voz... toda ela perfeita!

    quero conferir esse dvd!

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  2. concordo em relação à Vanessa. Linda e elegante, voz perfeita...


    agora DISCORDO em relação ao Chico, o cara é muito bom! ...atualmente arriscaria dizer que ele é até melhor do que caetano... haha(pra me tornar um bobo que compara as coisas.


    aliás, falando em caetano, um colunista da folha afirma que o ultimo cd dele se encaixa no perfil de um 'calouro de ciencias sociais', haha...

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  3. vanessa da mata é belíssima... e a voz então!

    adoro quando ela vai ao faustão.

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  4. sobre chico, só falo q ñ gosto, e nem sei o q tanto as pessoas gostam daquilo.

    kra, eu curti o ultimo disco do caetano!!!

    tem umas músicas mto mto pirantes!
    no melhor estilo... ciências sociais!
    xD

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