sábado, 15 de agosto de 2009

Sobre Edir Macedo, seu Império e sua Igreja


Resolvi me antecipar em relação à capa da Revista Veja (muitas vezes tendenciosa e perigosa) que estará nas bancas e falar sobre um assunto que já é pauta há muito tempo: Edir Macedo e seu império chamado "Universal do Reino de Deus".

Infelizmente quando a mídia e as pessoas de um modo geral referem-se aos (constantes) escândalos religiosos evangélicos, acabam incluindo todas as denominações no barco do charlatanismo e da incoerência. O fato é que existe uma diferença crucial entre o protestantismo histórico (presbiterianos, luteranos, batistas, metodistas...) nascido na Reforma Protestante ou no período pós-reforma e o movimento neopentecostal que se multiplicou a partir da década de 50.

É importante ressaltar que a história segmentou o cristianismo, e isso foi fundamental para que os focos teológicos se modificassem. Enquanto o protestantismo histórico buscou a ordem e o estudo ao invés de emoções (tornando-se até mesmo fundamentalista e não admitindo mudanças cabíveis por medo do "novo cristianismo") , os neopentecostais (salvo algumas exceções) tornaram-se o show do sincretismo, misturando o emocionalismo aos mais estranhos rituais. O antropólogo da USP, Ronaldo de Almeida, refere-se à Universal com dramáticas descrições etnográficas a respeito de rituais de exorcismo, em seu livro "A Igreja Universal e Seus Demônios".


O que a Universal transmite pela TV é uma grande confusão teológica - e como se não bastassem todos os problemas dogmáticos, ainda temos que assistir algo pior: a teologia da prosperidade e a construção de um verdadeiro império das comunicações. Como os próprios programas veiculados pela TV sugerem, a IURD “transforma” a vida das pessoas - faz algo além do espiritual, pois como eles mesmos dizem: "depois de participar dos eventos da Igreja a pessoa prospera".

Prega-se então uma barganha com Deus, que utiliza rituais simbólicos para expelir demônios e permitir a vitória plena. O mecanismo de convencimento é simples: você dá o dízimo e ganha bênçãos. Não sou contra a ajuda ou o compromisso de auxiliar a comunidade religiosa que qualquer pessoa freqüente, pois sei que dinheiro não cai do céu, e é necessário custear e manter os trabalhos. Mas penso que se Cristo veio à Terra pobre pregando algo tão espiritual quanto o amor, Ele não é passível de aceitar barganhas financeiras.

A meu ver, o que Cristo prega é algo que vai muito além da matéria e adentra no campo da renúncia. Em seu livro, Edir Macedo diz claramente que doar dinheiro à Igreja é uma barganha: “As pessoas não devem dar ofertas para ajudar a igreja, mas para ajudar a si próprias. Quando dá está fazendo um investimento para si, na sua vida. É o que mostra a Bíblia. Quem dá tudo recebe tudo de Deus. É inevitável. É toma lá, dá cá [...]. Quando alguém faz um sacrifício financeiro, Deus fica sem opção. Ele tem a obrigação de responder, porque é sua promessa. É a fé. Basta seguir o que Deus disse: ‘Provai-me nos dízimos e nas ofertas’” (“O Bispo”, 2007, p. 207, 215).


Outra grande questão é o império chamado grupo Record - e não quero adentrar o campo da credibilidade jornalística e muito menos falar sobre as disputas Globo x Record. Mas acredito que se a Globo representou (e representa) um poder de manipulação no Brasil, eu realmente temo o que a Record pode se tornar caso continue expandindo... Mas por enquanto isso é só especulação. O problema está no fato de uma emissora de TV comercial ser totalmente financiada por uma Igreja.

Até aonde eu sei, a IURD é uma instituição filantrópica (como toda Igreja) que paga valores altíssimos para a exibição de uma programação na madrugada e investe diretamente em uma empresa particular (pertencente ao líder máximo da IURD), que é a Record. É incompreensível tal dinâmica que retira o dinheiro dos fiéis para a megalomania de um projeto empresarial. E é importante ressaltar que a programação da Record não segue nenhum parâmetro evangélico além das "entrevistas com o diabo e as sessões do descarrego".

O campo do discernimento é muito vasto e difícil, e este é apenas o meu ponto de vista. É preciso discernir entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira e isso nem sempre é possível.
Enquanto alguém que cresceu no protestantismo histórico (batista) e conhece as contradições, falhas e acertos das igrejas pós-reforma, fico desapontado em ver a teologia da prosperidade arrebatando multidões e construindo verdadeiros impérios.

Mas talvez todo esse pensamento de Edir Macedo em conquistar a mídia, construir templos imensos e pregar a prosperidade só ateste que ele próprio acredita no que prega. Afinal de contas, não seria a história de sucesso do Bispo uma obra da própria teologia da prosperidade?


A primeira imagem é a capa de uma revista protestante chamada Ultimato.


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