I
Uma cidade no deserto
Entre dois rios
Entre duas perspectivas
Do outro lado, como a enxergam?
Passado presente futuro
Nas pegadas do peregrino
Que cruza vales e montanhas
Burlando placas e sinais, se perdendo ou se encontrando
De olhos fechados pode-se percorrer as fronteiras
Perscrutar
Alterar o passado
É assim em cidades espelhadas
Que tem o poder de refletir o pouco que nos pertence
Em meio ao muito que não tivemos e não tereremos
["Ao chegar a uma nova cidade,o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos." CALVINO, Ítalo]
II
Os caminhos são muitos
Cidades geradoras de vida
Cidades mulheres
Interligadas, simbólicas, delgadas
Existências agregadas
Entre concreto e pavimento
Cidades que se multiplicam
Que respondem indagações dos que peregrinam
Cidades divididas entre o itinerante e o fixo
Construídas entre abismos
Com sons próprios, ruídos...
No passado era uma, mas no presente tornou-se outra
Nunca a mesma
Dividida entre os mortos e vivos
["Voz do que clama no deserto: Preparai um caminho reto no deserto. Todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será abatido; e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará." Isaías 40]
III
Em meio à jornada proposta
O peregrino encontra vida
Entre diferenças e semelhanças
Descobre-se em meio a um tabuleiro de xadrez
Com peças entupidas e utópicas
Calcificadas pela ilusão de movimento
As cidades mulheres
Governadas pelo que não se pode ver
Formando impérios desconhecidos do rei
Cidades sem nomes, meras metáforas do que é humano
Terras longínquas
Ilhas de proporções continentais
Verticais, horizontais
Cidades invisíveis, uma única, muitas talvez...
["- Eu falo, falo - diz Marco, - mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja. Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua bondosa atenção, a outra é a que correrá os campanários de descarregadorses e gondoleiros às margens do canal diante da minha casa no dia do meu retorno (...) Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido." CALVINO, Ítalo]
Texto escrito em Fevereiro de 2009 após a leitura do livro "Cidades Invisíveis", de Ítalo Calvino.
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