sábado, 18 de dezembro de 2010

Sherazade e minhas estórias

Releio frases e textos antigos. Despedidas a todo momento. Na parede da memória, um mapa mundi adolescente de rotas marítimas e sonhos tolos. Talvez seja realmente importante tantas despedidas, pois só assim percebemos as pessoas que estão ao nosso redor. Mas o mais interessante de se lançar em uma jornada deste tipo, aos 21, é ter a consciência de que se trata de algo completamente desconhecido!

A Sherazade terá, ao final de tudo isso, colhido mais "estórias" de sua vida e pode até ser que o desfecho de tudo isso nunca seja contado por ela... Talvez as tais "estórias de si mesmo" caibam dentro das mochilas que carrega estrada a fora, nos ipods ou discos rígidos. Suas projeções e expectativas, frustrações e sucessos, seus erros e temores. Suas músicas e livros favoritos.

Poderia matar Sherazade só pela ânsia de conhecer o desfecho disso tudo? Um crime que se justificaria apenas pela necessidade de se conhecer o porque da narrativa. Sem graça e totalmente atemporal... A beleza da vida é reconhecer que mesmo sem respostas, estamos na estrada. Podemos corrigir erros de rota ou então prosseguir quando tudo está de acordo com os planos.

Mas talvez ao se lançar nessas estradas malucas seja necessário deixar algumas coisas para trás e reconhecer que nem tudo está sob nosso controle. E tudo isso faz sentido, pois é a única maneira de continuar peregrinando, de prosseguir.

Não somos reis de nós mesmos, não somos escravos de nós mesmos em uma busca desenfreada pela perfeição. O erro é mais humano do que pensamos. Pra que se martirizar? Talvez todas as nossas crueldades sejam reveladas apenas quando outros narrarem nossas aventuras e é possível que nossos sonhos juvenis tomem rumos opostos em relação ao que projetamos hoje.

Pode ser que hoje não faça sentido, mas chegará o momento em que o peregrino sentirá o horizonte "pesar nas costas". Perceberemos então que tudo depende das perspectivas de quem conduz a estória.

Quando as colinas estiverem cobertas de gelo, o peregrino se apaixonará por Sherazade e pode ser que tal experiência transforme completamente seu destino, como em um conto do realismo fantástico latino-americano. Talvez não sejam necessárias mil e uma noites para que isso aconteça...

Talvez a misteriosa musa que conquistou Xeriar seja uma cidade, como as cidades invisíveis de Italo Calvino, talvez seja a iluminação no deserto, como aconteceu com os profetas, ou a estrada de Kerouac... Talvez sejam nossas respostas ou, mais diretamente, a própria sabedoria...

Por hora, Sherazade são meus escritos caóticos. Todos escondidos num lugar qualquer de calmaria em que eu possa ouvir e contar minhas próprias desventuras!

‎"The more you see the less you know
The less you find out as you go
I knew much more then than I do now"

2 comentários:

  1. fico cá pensando onde é que acabamos escondendo todas essas histórias...

    [ou, você apareceu em um sonho meu, dias atrás. não me recordo bem a situação. hahaha. saudades!]

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  2. confesso que tive que desligar o som e colocar ocupado no msn, já que vc disse que estava ininteligível, mas eu não concordo. eu li, entendi e gostei :)

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