segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Tempos verbais

Vento gelado e uma madrugada de Ano Novo não tão agradável como gostaria... O que fazer diante do inesperado? Como agir quando até a alma treme de frio e não há cobertores e lareira por perto?

Falo do frio que pode assolar nossas vidas quando os planos e sonhos estão suspensos, quando não temos forças para olhar para frente. É triste, mas eu já passei por isso há alguns anos atrás. Relembro a estranheza de ver todo mundo envolto numa "aura" de felicidade e mudança e simplesmente não conseguir me encaixar no meio daquilo tudo. As expectativas típicas de Ano Novo começaram a ficar um pouco de lado justamente por se tratarem de meras "expectativas".

Desde então, meus invernos pessoais foram mais amenos, e nem são passíveis de comparação à temperatura canadense, tenho certeza disso! Naquele ano, no auge da adolescência, eu escrevi algo na agenda comparando a minha situação interna (se é que vocês me entendem) com o inverno, que seca as árvores, deixando-as como galhos mortos, exatamente como eu tenho apreciado da minha janela.

O engraçado é que nesta fase da minha vida, começo o ano exatamente no rigoroso inverno da América do Norte - e os planos para 2011 (e para os próximos anos que virão) enchem minha mente! Já não me preocupo mais em julgar se são desejos utópicos ou não. Na verdade, tento construir minha casa em rocha sólida, tendo alicerce para poder continuar a construção... E é exatamente assim, simples como uma parábola, e tão prático e eficaz quanto um ensinamento profético.

The Countdown

Eis que no Ano Novo, enquanto a contagem regressiva empolgava as pessoas, eu relembrava o quanto aquele meu inverno pessoal foi importante para que eu estivesse preparado para este inverno de agora. E foi assim que eu mais uma vez compreendi que as coisas possuem um "sentido", e que muitas perguntas que eu faço serão respondidas, ainda que leve alguns dias, meses ou anos.


Na minha mente tocava America (de Simon & Garfunkel) e eu me lembrava da personagem do filme Quase Famosos que para se livrar da "opressão" da mãe, disse que esta música representava a razão pela qual saíra de casa e resolvera viver sua própria vida. A América, no sentido amplo, no sentido dos muitos imigrantes, no sentido da estrada e do auto-conhecimento. Eu vejo todas essas "Américas" nos jornais, na televisão, nas faces distintas que lotam o metrô.

No Canadá os povos mais diversos estão juntos... E é interessante ver essa união. No dia 31, enquanto eu pegava o metrô para downtown, foi que eu me dei conta do quanto o ser humano - não interessa de que parte do mundo seja - é igual (em essência). Os sorrisos, os desejos, as utopias, a violência. Somos todos iguais, e por isso mesmo nos divertimos ao ver os fogos e dizer Happy New Year e continuamos fazendo planos para o próximo ano que está diante dos nossos olhos.

Em A Peste Albert Camus disse: "No mais profundo inverno, finalmente aprendi que dentro de mim havia um verão invencível". E é realmente isso! Aquele inverno foi importante para que eu pudesse, hoje, enfrentar as baixas temperaturas. O importante é ter esperança, ainda que o mundo real esteja muito distante do mundo dos sonhos - sem esquecer a realidade de hoje, o alicerce de hoje que são as bases para a construção do amanhã.



"Kathy, I'm lost" I said, though I knew she was sleeping
I'm empty and aching and I don't know why
Counting the cars on the New Jersey turnpike
They've all gone to look for America

2 comentários:

  1. acho que eu já sei o que vou escrever na sua carta, afinal.

    beijos! **:

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  2. Pericles, parabens pelo seu blog, muito bem escrito a alem do mais as visoes subjetivas de cada um!

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