segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

CONTADORES DE HISTÓRIAS



Eu já havia dito há alguns meses que meu programa de televisão favorito é o "Passagem para...", que exibe videoreportagens das andanças do solitário jornalista Luís Nachbin (o link do site do programa está na lateral do blog). Bom, o fato deste ser o meu programa favorito não impede que eu liste outro, que eu acompanho há algum tempo (e que está totalmente conectado ao programa de Nachbin). Trata-se do trabalho do neto de Luís Buñuel, o jornalista Diego Buñuel!


Seja no "Don't tell my mother" ou no "Zonas de Guerra", os trabalhos desenvolvidos por Buñuel são excelentes. Reza a lenda que ele se interessou pela história da 2da Guerra Mundial ainda na infância, o que atesta seu fascínio por lugares perigosos e caóticos. Porém o mais interessante é seu olhar sobre o mundo, sua maneira peculiar de filmar e também a convicção de que é, acima de tudo, um contador de histórias.


Tanto o trabalho de Buñuel quanto o de Nachbin se conectam quando a obra prima são as histórias de pessoas comuns, e o senso um tanto quanto lírico de que estão em diferentes lugares para mostrar ao mundo a beleza que é "ser gente". Este exercício de retratar pessoas me afeta em vários sentidos, mas a principal percepção que me vem é a de que, mesmo tão diferente da minha realidade, os anseios daquela pessoa mostrada em seu cotidiano não possui grandes diferenças dos meus (do particular para o universal?!).

O trabalho de um videorepórter - tão influenciado pelo New Journalism - é inovador no aspecto de dar um outro recorte a respeito de determinado país ou região, principalmente em se tratando do jornalismo internacional, que mostra tantos contrastes sociais, econômicos e culturais. Saindo do factual dos números da economias, das cúpulas, das eleições... e partindo para indagações do tipo: Como todos esses jogos (econômicos, políticos e militares, por exemplo) afetam a vida de pessoas comuns?


Além disso, esse tipo de jornalismo parece permitir um olhar a respeito de quais são os anseios dessas pessoas, quais são seus planos e como suas vidas continuam - seja em meio ao caos de um conflito armado no Afeganistão ou diante da quebradeira econômica nos Estados Unidos.

Eu gosto de materiais jornalísticos do gênero e acredito que com a facilidade de lidar com edição, gravação, e a popularização dos kits de correspondentes (tão citados por Willian Bonner em seu livro sobre o JN), este tipo de vídeo deve ganhar cada vez mais espaço. Aliás, esse tipo de produção solitária, além de uma imersão maior no New Journalism são dois grandes desafios pessoais para 2010.

Eu tenho a tese de que todos nós somos em essência muito iguais, não interessa nossas localizações geográficas ou diferenças culturais. Talvez eu precise viajar e olhar o mundo de maneira diferente para comprovar minha tese ou derrubá-la, quem sabe...

Termino o post com o trecho final de uma reportagem sobre o trabalho de Diego Buñuel publicado no jornal El País:

Son reportajes curiosos, distintos, lejos del engolamiento que suele rodear a muchos corresponsales de guerra y grandes exploradores. Diego Buñuel sale permanentemente en pantalla, hablando con la gente, casi siempre con una sonrisa. “El humor es esencial para defenderte, para sobrevivir… Siempre se encuentra un resquicio para seguir adelante. Al principio recibí muchas críticas; que cómo me atrevía a salir así en pantalla, y de esa manera tan natural y fresca. Pude defenderme bien porque tenía mucho trabajo de periodista a mis espaldas”.

El episodio dedicado a los Balcanes es el que le ha quedado más dramático; pues ya desde el comienzo se ven los duros trabajos de identificación de cadáveres en fosas comunes. Pero Diego Buñuel sabe, incluso en Bosnia y Serbia, encontrar puntos de fuga, grietas por donde entra el aire en la vida cotidiana y desdramatiza la historia. “Es el humor de las pequeñas historias. El periodista debe ofrecer salidas, no presentar continuamente la realidad como un callejón sin salida, como el fin del mundo, algo a lo que nos tiene acostumbrados la prensa. Parece que cada día se va a acabar el mundo. Yo me siento como un trovador, alguien que va contando pequeñas historias con las que todos los seres humanos se pueden sentir identificados. No soy un notario que certifica de una manera fría los grandes hechos. No. Soy un trovador. Y no hay profesión más bonita en el mundo que la de contar historias. Y debemos saber contarlas, aportar perspectivas distintas. Vivimos en una época de transición, de adaptación a los nuevos formatos que nos ha traído Internet; pero el periodista no desaparecerá. La sociedad siempre necesitará gente que le sepa contar historias y con una ética; y eso no es el vale todo que se cuelga en la Red. Yo digo que hago infortainment (una mezcla de information y entertainment, entretenimiento, en inglés). Debemos saber atrapar la atención hasta el final”.

[CITA. EL PAÍS. Suplemento Dominical. 14.06.09. EL BUÑUEL EXPLORADOR, por Rafael Ruiz. Estracto]

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